18 março 2009

O que há?

Há uma chama

Um verso

Um sentimento


Há um vazio

Concreto

No momento


Há um alguém

Incompleto

Em pensamento


Na verdade há
Tão-somente
Um sonho
No qual
Hemos de ser.

3 comentários:

Eduardo Matzembacher Frizzo disse...

Somos naquilo que não estamos. É no silêncio de cada fala que habitamos. É no cruzar de pernas, no mexer de olhos invonluntários que nos encontramos. Para além ou aquém disso, existe a ilusão da palavra, "um sonho/no qual/hemos de ser", visto que nada mais nos faria ser no mundo a não ser ela. Por conta disso "há uma chama/um verso", mas ao mesmo tempo "um sentimento" que gera o reconhecimento de que "há um vazio". Esse vazio, contudo, é tão "concreto" que podemos sentí-lo habitado por nós mesmos, ainda que nossa face, em permuta com o nada, seja plenamente fosca, prenhe da falta de compreensão que carregamos quando distantes daquilo que entendemos. E se "no momento/há um alguém/incompleto/em pensamento", isso já é algo, vez que a incompletude, ao menos para nós, seres por natureza finitos, é nossa própria condição, visto que não podemos almejar algo além dos estritos limites desse quintal que cultivamos, seja com ajuda de outras pessoas ou com a terra do próprio umbigo. Por conta de tudo isso, o reconhecimento de que "na verdade/há tão-somente/um sonho/no qual/hemos de ser", ao falar desse vazio, fala também do nosso devir, da nossa projeção no mundo, já que somos mais o que desejamos do que aquilo que justamente somos. E haveria de ser diferente? Partindo do fato de que a palavra personalidade traz consigo a palavra persona, não há como ser de maneira diversa, visto que as máscaras um dia irão escaldar, seja pelo sol do meio-dia, seja pelo luar que qualquer beijo esquecido nos fez lembrar ou pela própria indefinição do que somos - o que no faz mudar de máscara dia após dia. E existe sofrimento nisso? Creio que não. Existe somente existência. E muito embora eu não seja muito afeito a esse estilo concretista, foi isso que senti ao ler seu poema, ritmado no compasso de um concreto que desconheço, já que, antes de sermos ossos, temos de reconhecer que somos sangue e terra, muito embora seja dessa crueza que seus versos expõem que nossa composição, seja literária ou musical, realmente (?) se dá. Por isso, um beijo anti-protocolar para você, minha cara moça das lidas da arte e das lides do direito, habitante de uma Fortaleza que ainda irei conhecer.

Anônimo disse...

E que sonho!
É possível ler muitos poemas na forma em que dispôs as palavras!
Gostei muitíssimo.

Ígor Andrade disse...

Tua poesia só cresce. Muitos poemas num só, aqui. Gostando muito, minha amiga!
Abraço!