17 março 2009

Extasiada

Paro
Diante de mim
Do tempo
Paro, no tempo

Em pensamento
Num movimento
Único.

Numa resta de sonho
De minutos que
Outrora marcou.
Restando só
O vazio da solidão.

Numa chama
Que caprichosamente
Teima
Em não apagar.

5 comentários:

Beatriz disse...

Caprichos da paixão. Caprichos da poesia. êxtase com a linguagem

gloria disse...

o vazio é tão povoado! quando as chamas do que realmente somos se alumiam, uma réstia de luz incide nos personagens insólitos que povoam esse planeta chamado solidào. ele é um lugar para poucos Sílvia, um depositário de poesias em dor maior, em polifonia silenciosa. cada dia amplia o gosto de te ler, povoadas de solidão! bjs

Eduardo Matzembacher Frizzo disse...

Joseph Conrad, em dado momento d'O Coração das Trevas, fala, por via do personagem Kurtz, o qual foi magnificamente interpretado por Marlon Brando no clássico Apocalipse Now, este dirigido por Francis Ford Copolla, "que vivemos como sonhamos: sós." Neste sentido, parar diante de si "em pensamento/num movimento/único" é, ao meu ver, reconhecer o fato de jamais podermos ultrapassar essa solidão que nos povoa - e que por vezes gera uma angústia que suscita, como bem disseram Heidegger e Lacan, a experiência do nada ou a experiência do vazio. E o que significam tais experiências? Significam estarmos em um campo onde a semântica de nada vale. Significam estarmos em um local desprovido de referenciais, e isto a tal ponto que a angústia logo se instala, vez que o ser humano não encontra nada que possa definir a absurdidade do que lhe rodeia - utilizando aqui um conceito caro a Camus. Assim, é interesante também dizer que por mais que sintamos no âmago do peito o transcorrer do tempo, para certas correntes da física atual, o tempo, como quarta dimensão do espaço, de maneira alguma transcorre - pelo contrário, o tempo apenas é. Logo, o que nos levaria a sentir o tempo colocando mofo nas paredes e cabelo branco nos homens, como diz o Pessoa? Talvez algum ingrediente cerebral que desconhecemos, mas que, essencial a nossa percepção humana, faz com que sejamos enquanto tempo assim como somos enquanto história e linguagem. Portanto, esta "chama/que caprichosamente/teima/em não apagar", talvez nem chegue a ser chama. Pelo contrário, talvez ela seja um prenúncio desse vazio inominável e inenarrável, visto que para onde olharmos, o que olharmos humano será. E existe como narrar o medo da falta de referencial, seja de palavras ou placas quando nos perdemos no puzzle dessas estradas que entrecortam os campos? Só quem passou por essa experiência pode descrever essa sensação. Porém, todos nós também podemos descrever de algum modo essa sensação, assim como você concluiu dizendo que, ao final, resta "o vazio da solidão". E a qualidade do seu escrito se encontra justamente nesse achado: no falar o indizível, já que talvez essa seja a matéria da poesia, como muitas vezes sublinhou Quintana, ao falar que não queria fazer poemas sobre grandes guerras e acontecimentos, mas sim sobre as manchas no muro de alguma rua. E esse tipo de poesia, com a metria e o tempo adequados, ainda que tanto a metria quanto o tempo sejam invencionices para suportar a absurdidade da própria vida e do vazio que ela ora ou outra invariavelmente irá suscitar, você faz com ótima qualidade, dando nome a face desse grande sem nome do qual a Hilda Hilst falou. Portanto, ainda que estejamos sós, existe o afeto da nossa escrita, a qual, por via de uma intersubjetividade que é mais que intertexto, vez que implica literalmente em pele, faz com que nos reconheçamos no outro a partir dessa experiência do vazio e do nada. E foi isso que senti ao ler seu poema, racionalizando, logo após, os traços dos seus versos. Um beijo, minha cara moça. E prossiga poetando.

Solange Maia disse...

E viva essa chama teimosa... que ela não se apague nunca !!!!

Adorei !!!

Beijo,

Solange

http://eucaliptosnajanela.blogspot.com

Anônimo disse...

E mesmo quando nos deparamos com esse vazio, que às vezes tem o nome de realidade, insistimos em reacender a chama do êxtase perdido(?).