05 dezembro 2011

Despedida

“- Então Sophie, você não está feliz com minha presença? Cheguei animada para ficar ao seu lado!” – pergunta cinza percebendo meu desânimo.

“-Poxa cinza, eu não estava preparada pra você agora... As cores ainda são muito fortes em minha vida... não consigo esquecê-las, assim, tão depressa...” – lamento triste.

“- Você já passou por isso, Sophie. As cores nunca são eternas. Elas não são legais com você, sempre vão embora quando você mais se apega. Lembre-se que sempre sou eu que, no final das contas, estou ao seu lado.”

Não consegui retrucar. Ela estava certa.

Ficamos vagando, sem nada conversar. Não sentia vontade de nada. Queria dormir e deixar o tempo correr, no vazio que eu sentia no peito. A cinza ficava ao meu lado, mas eu não sentia ânimo para falar qualquer coisa que fosse. Nem para reclamar sua presença, tampouco para agradecer por ser minha única companhia.

(...)

De repente, um passarinho pousou em minha janela. Eu deitada, não ouvi seu canto, mas ele insistiu e cantou mais alto. Foi quando olhei pra ele... Lembrava-me dele. O vi voando, feliz, quando ainda raiava o arco-íris em mim. O olhei mais atentamente. Ele cantava a sua bonita música, olhando pra mim, tentando me confortar. Havia uma esperança em sua música que já não existia em mim. Entendi sua vontade em me reanimar, mas, nesse exato momento, lembrei de todas as cores, que há pouco radiavam minha vida e que me deixaram, que tinham ido embora e que eu não mais as veria. As lágrimas não cessavam do meu rosto e o passarinho, que me olhava, parou de cantar. Olhou-me alguns segundos e percebeu que não haveria nada a ser feito. Sua música não cessaria a dor instalada em meu peito. Soltou uma última nota musical, despedindo-se e voou para seus campos verdes e coloridos. Para os campos que eu não mais voltaria.

(...)

Após um dia e uma noite mal dormida, a cinza instalava-se em mim. Absorvia-me como era sua especialidade e não havia resistência. Não havia motivos para resistir. Já era indiferente sua companhia ou sua absorção de mim, em mim. Todavia, em qualquer dessas horas comuns que eu já não mais percebia, alguém bate em minha porta novamente. Fico meio irritada, afinal, não estava esperando ninguém – reflexos da cinza. Quando abro, não reajo, surpreendida:

“- Sophie... Voltamos. Sabemos que agimos errado, fomos embora por um motivo torpe e não levamos em conta todo o brilho já conquistado, porque nós só brilhamos devido ao amor dos seus olhos. Seus sentimentos que nos fazem iluminar os melhores dos céus. Os nossos céus. Nós não existimos sem você, Sophie. Nosso brilho não há razão de ser sem que você exista para que possamos iluminar. Se somos um arco-íris hoje foi porque você, e somente você nos transformou em um. O mundo se tornou mais colorido devido ao seu amor por nós, devido ao nosso amor por você. Nós a amamos Sophie!”

Eu não acreditava no que ouvia. Também não conseguia emitir nenhuma expressão. Assim como foi a surpresa de sua despedida, estava sendo a surpresa do seu retorno. A cinza chega ao meu lado e me sopra as lágrimas que derramei pelas cores que injustamente haviam ido embora.

“- Vocês foram injustos comigo. Eu não merecia esse abandono gratuito. Eu morri por dentro sem nada poder fazer. Minha alma secou...” – marejei os olhos – “Ouvi um adeus forçado, sem que eu quisesse, sem que eu tivesse chance de argumentar. Nunca exigi suas cores e nem seu brilho. Tudo isso aconteceu de forma gratuita... vocês não poderiam ter feito isso comigo...”

As cores perceberam o erro e se emocionavam com a dor que haviam proporcionado a mim, sem motivos.

“- Nós pedimos desculpas, Sophie. Não queríamos magoá-la. Não era nossa intenção. O que sabemos agora, o que aprendemos na dor da distancia em que estivemos, foi a certeza do amor que sentimos. Apesar de a decisão em ter partido ter sido nossa, mas nós nos arrependemos... nós descobrimos quanto é grande o nosso amor por você...” – falaram emocionados.

A cinza, que ouvia tudo ao meu lado e fazia questão de lembrar todas as lágrimas derramadas, de repente calou-se. Percebeu que as cores tocaram novamente o meu coração e, de cabeça baixa, sem falar nada, foi saindo, sem que eu percebesse. Nesse momento, olhando fundo para as cores, falei:

“- Não me deixem mais. Minha vida não tem emoção sem vocês. Eu não brilho, eu não sorrio. Você fizeram-me renascer para o amor, não me deixem desacreditar novamente no sentimento. Eu acredito em nós. Eu acredito no nosso amor. Eu amo vocês...”

A cinza, já longe, olhou para trás e nos viu em um longo e apertado abraço. Nesse momento, ela sussurrou baixinho para si mesmo:

“- Adeus Sophie. Agora já não sei se voltarei algum dia. Seja feliz...”

04 dezembro 2011

Reencontro

E as cores se esvaem, aos poucos... perdem-se dos olhos, marejados, sem que eu os queira longe, mas se vão sem olhar pra trás. Um meio sorriso triste, no canto esquerdo da boca com a testa franzida é a expressão que recebem as primeiras lágrimas brotadas dessa despedida forçada. Viro as costas e fecho a porta de cabeça baixa, sem entender o porquê de as cores sempre irem embora, quando estão mais radiantes, quando mais brilham e iluminam meus olhos. De repente, ouço nova batida na porta e corro para atender. Meu coração dispara e penso:

“-As cores voltaram!”.

Em segundos troco minhas lágrimas por um largo sorriso, meus olhos voltam a brilhar no percurso até a porta e a abro feliz...

“-Oi Sophie, voltei. Sei que não queria minha companhia tão cedo, se é que ainda queria algum dia, mas não posso abandoná-la. Você sabe que sempre vou embora quando as cores chegam, mas as vi saindo há pouco. Dessa vez, acho que seremos amigas por muito e muito tempo e as cores não atrapalharão nossa amizade de novo. Você vai ver como vamos nos divertir com a realidade objetiva e sem emoção... voltaremos a nos deliciar com a dedicação exclusiva ao trabalho sem amor, até a exaustão. Viveremos os dias sem qualquer pessoa pra pensar ao dormir e ao acordar, a realidade seca e sem cor é muito melhor, você verá! Não há sofrimento nesse mundo Sophie!! Vai ser divertidíssimo!!”

Sem motivação, desanimada e de cabeça baixa só consigo dizer:

“-Entra cinza, entra...”

08 agosto 2011

Soneto da vontade

Traz-me a doçura do teu ser
Enche-me da água do amor.
Sou fria, comovida pela dor
Sou tua para sempre, até morrer!

Anseio o amor mais puro
Que cure meu coração dolorido.
Que de tentar, só tem sofrido
Que de tentar, só anda no escuro!

E neste amor de quimera
Anseio por você, em mim
Trazendo-me nova primavera

De flores, como rosa ao abrir
De flores, que enfeitem meu jardim
De flores, pra me fazer sorrir.

01 agosto 2011

Soneto do novo amor

Já não prometo mais certezas
Aquelas que não hei de cumprir
Tolas são todas as promessas
Que acredito do amor fugir...

Mudam-se todas as estações
Assim como mudam os sentimentos
Não podemos prever, nos corações
Quando mudam os batimentos...

Sou início de amor sem fim
Com medo do momento agora
Assumindo o sentimento, enfim.

Mas, se de tudo só me reste ilusão
Novamente pensarei como outrora
Definitivamente, trancarei meu coração.

05 julho 2011

Luz apagada

O brilho da purpurina de um carnaval, dura o curto instante de um sorriso, de um abraço, de um aperto de mão e finda no apagar da última fogueira de São João, não havendo, sequer, o suspiro para felicitar as novas primaveras tão proximamente vindouras...

12 junho 2011

O que seria?

O fato de querer traduzir-me

(sentir, ser, querer, amar,

fazer, beijar, voar, amar,

gritar, ter, ver, tocar, amar,

cheirar, dançar, ouvir, amar,

viver, abraçar, respirar, amar,

doer, chorar, sorrir, amar...)

Traz-me a extrema inanição
De nada conseguir dizer.

14 abril 2011

Impaciência

Não sei o que fazer
nem ainda, o que falar
com toda essa louca vontade
de gritar!

Se aqui estou,
já não quero mais
sou impaciência
indecência
na iminência
de surtar!

Sou aqui,
Estou ali...
Não sendo nada
E tudo querendo
Para um mesmo fim.

Afinal,
onde devo ir?

12 março 2011

14 fevereiro 2011

Fumaça

Numa brevidade
Minutos de êxtase
Num instante vivido
Que agora acabou.

Num momento
Ali estava (gostava)
Entre braços e abraços
Que agora acabou.

(não houve momento,
sofrimento,
cessação.
Somente instante,
extravagante,
numa ocasião.)

Contudo
Tudo ficou confuso
Enganado, embaçado
Por fim, terminou.

04 fevereiro 2011

Porque sou

Hoje quero ser
O que outrora já fui
Amanhã já nem sei
Tampouco substitui.

Ontem já passou
Agora sou meu eu
Quem dera pudesse o tempo
Trazer o que já foi meu!

Um pouco de vida alheia
O tempo de nada fazer
O amor que se semeia
Vontade de a vida, viver!

Contudo, já sou assim
Num passado de quimera
Esperando por algum furuto
De saco cheio do que já era!

21 janeiro 2011

Foi-se para ser

Foi-se o tempo em que eu sentia as borboletas, em que eu enxergava romantismos e me dedicava a alguém. Foi-se o tempo em que realmente alguém mereceu meu amor, meu carinho, minha atenção. Foi-se esse tempo que eu queria tanto voltar, sentir, viver. Um tempo em que minha vida tornava-se cor-de-rosa e o sorriso saia fácil. Falar com alguém então... me dava calafrios. Não, minha vida não está cinza. Há alegria (muita alegria, diga-se!). Hoje me curto, curto minha vida e meus pequenos afazeres. Hoje sinto-me livre de pré ou pós-conceitos, pois sei até onde fui e onde posso chegar. Sou eu e só. Não há papéis ou encenações. Não preciso agradar a ninguém que não seja a mim mesma. A sensação de ter sua vida em suas mãos é uma sensação gostosa, ainda que seja cansativa. Contudo, o cansaço é um prazer... Posso sonhar com um conto de fadas, com meu príncipe encantado que nunca aparece ou com a minha eterna liberdade. Posso sonhar com tudo e mais um pouco e ser, depois, o que eu desejar ser. Os traços do meu futuro são... MEUS! Não dependo de ninguém para fazer minha vida. O que posso é acrescentar pessoas, àquelas especiais, para meu convívio. Sinto prazer em ser amiga, em ajudar, em fazer bem. Minha busca jamais cessará e essa busca chama-se felicidade!